quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Carta de Afonso Pires


Carta aberta ao Rui

És e serás sempre um grande amigo, um irmão, e de longe no dia a dia ainda não consigo interiorizar o que aconteceu. As palavras da minha irmã ao telefone ainda não entraram na minha consciência, terei que chegar a Faro e sentir a tua falta para começar a perceber.

Hoje vim ver este blog que te fizeram e aqui estavas tu com o sorriso matreiro de sempre, o mesmo desde os tempos em que era o anuncio de um pum silencioso mas nauseabundo, o mesmo que punhas quando mandavas algum primo mais pequeno à sala dizer palavrões em voz alta no meio dos “crescidos”.

Sempre foste um traquina no melhor sentido da palavra, desses tipos de quem se podem estar horas a contar historias e recordações com alegria e riso. Foi o copinho de medronho que ias vazando ao meu pai durante um bridge aos 5 anos, foram as notas que melhoraste (como tinha que ser!) à frente das nossas mães antes de lhes mostrares os teus brilhantes resultados, foi a fuga do colégio com o Miguel, e tantas outras historias que recordarei toda a vida com um sorriso e agora saudade.

Como não podia ser de outra forma tornaste-te um adulto especial. Um tipo sem medo a experimentar, decidido a encontrar o seu caminho, com uma capacidade de iniciativa que creio é um exemplo a seguir por todos nós. Foste um empreendedor que não teve problemas em cruzar fronteiras a norte e a sul para levar avante os seus negócios. Há bem pouco, no casamento do Henrique (onde já agora também eu sou da opinião que foste o rei da festa) tive oportunidade de te ouvir contar as tuas peripécias na Mauritânia durante o negocio de camarão e peixe que tiveste. E lembro-me de comentar com o Cristóvão como é que era possível o esquema que tinhas preparado nessa ocasião.

É verdade que de adultos a distância física nos impediu manter o contacto com a mesma frequência, mas isso pouco importa. Tanto tu como o Pedro e o Joca representam para mim os irmãos que não tive, os companheiros mais fiéis de uma grande infância que foi a base para aquilo que somos actualmente. Os quilómetros não contam quando se tratam de amigos de verdade.

Este 2007 que agora acaba foi o ano do nascimento da minha filha Cármen, e no entanto o balanço é tão negativo... Tive que despedir-me do meu pai e agora tenho que despedir-me de ti. Tenho pena que a Cármen não tenha podido estar mais tempo com ambos, pois cada um à sua maneira tinha muito que ensinar-lhe. No entanto estou descansado porque sei que de alguma forma e em algum lugar vocês estão juntos a olhar por ela. É o que me consola no meio disto tudo…

Aquele abraço deste amigo que te tem sempre presente

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