segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Carta de Celízia Carvalho e Família

Rui,

Já se passaram oito dias. Oito dias de angústia, de raiva, de mágoa e de dor. Oito dias de perguntas: porquê tu, porquê daquela maneira, porquê alguém tão novo e com tanto ainda para viver. Porquê, porquê, porquê…
Não vale a pena mais questões. Não há explicação para algo tão estúpido e inexplicável como a morte.

Agora, passados estes dias, senti vontade de finalmente dizer-te alguma coisa. Com a cabeça mais fria, consegue-se escrever melhor.

Voltando um pouco atrás, foi através do meu irmão Roberto que te conheci (grande amigo que tu tens!) e os meus pais também. Já tínhamos ouvido o teu nome várias vezes lá em casa até que um dia o Roberto nos disse que tu ias lá jantar.
Entraste com uma camisinha de xadrez branca e azul e muito penteadinho e eu pensei: cá vem mais um “armado em bom”. Desculpa o desabafo, mas ao fim de 44 anos acabam por se conhecer alguns. Incrível, como me enganei!
Conquistaste de imediato a simpatia dos meus pais, principalmente do meu pai. Da segunda vez que lá foste e todas as outras que se seguiram, era como uma festa de cada vez que o Rui lá ia.
Divertido como tu tão bem sabias ser, educado, sempre com uma resposta alusiva a cada ocasião. Pelo Roberto e por ti, deslocou-se a família toda ao autódromo do Estoril para te ver correr. Quantas vezes atravessei aquele padock de um lado para o outro, só para te ver passar. Todos a controlarem o tempo que fazias, todos a ajudarem-te mentalmente dando forças para que mostrasses quem era o piloto Rui Ginjeira. Até nesse momento, tu mostraste o “puto” impecável que eras. Dignidade acima de tudo.

E agora, Rui? De cada vez que entro no Lido, estou à espera de te ver lá sentado na mesa onde habitualmente te sentavas. Fico à espera de ouvir o meu irmão dizer “vou ter com o Rui”.

E afinal, inesperadamente uma cidade inteira falou de ti. Não devia ter sido assim, campeão. Deveriam ter falado de ti em todas as ruas, nos telejornais, nos jornais diários, por outro motivo, não por este. Sabes, foi duro, é duro para mim passar ali, naquele local todos os dias, quatro vezes por dia e olhar para aquele sítio. De cada vez que o faço, é sempre com uma homenagem a ti. Sei que os meus pais também o fazem.

Tenho pena de não te ter conhecido mais e melhor. Mas agora é tarde. Apesar de tudo, tenho que te agradecer, porque a mim fizeste-me reflectir sobre o valor da vida, que afinal é tão curta e nós desperdiçamo-la tanto! Temos que viver cada dia, como se fosse o último.

Pronto, campeão, só me resta dizer – Até à próxima!!!

Celízia Carvalho e família

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